quarta-feira, setembro 06, 2006
Era um dia frio e chuvoso quando saí de casa. Mas frio mesmo, daqueles em que sai fumacinha até de café morno. E chuvoso mesmo, daquela chuva que chove e molha até quem está dentro de casa. Mas eu já tinha tomado o meu café e já estava lá fora. Saí de japona e gorro de lã, coberto por um sobretudo impermeável, de um cinza quase esverdeado, que o meu pai me havia emprestado alguns anos antes. Eram 8 da manhã e eu estava sozinho na rua, esperando o ônibus amarelo surgir em meio à densa cortina de gotículas e gotonas que despencavam do céu. Foi quando vi passando um boi boiando rua abaixo. A rua era um rio e os sinais piscavam suas luzes laranjas. Ouvia ao longe um soar abafado de buzinas, que pareciam soltar bolhas de ar enquanto gritavam. As luzes dos postes piscavam e eu já não mais sabia se era porque as nuvens deixavam o dia escuro ou se água já interferia nos circuitos. Um poraquê cor-de-lama se enroscou em minhas pernas e ameaçou me dar um choque. Queria pipocas. Eu, claro, não tinha pipocas, mas ofereci um babalu morango no lugar. Ele queria pipocas e foi embora meio puto, mas sem me dar o choque. O ônibus apareceu. Era uma gôndola amarela, com um esquimó vesgo ao volante. Um urso polar de aqualung fazia as vezes de cobrador. A catraca estava quebrada e ele não tinha troco para dez. Desci. Voltei para casa. Liguei o aquecedor e me enfiei debaixo das cobertas. Ao fundo ainda ouvia as buzinas insistentes. Dei um tapa no despertador e dormi.
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