sexta-feira, dezembro 02, 2005

Pearl Jam - Pedreira Paulo Leminski - 30/11/05 (Por Nery)



Sabe quem faz um puta show? Você. E um show bem mequetrefe? Você também.

Na real pouco importa se os músicos lá no palco se quebram pra tocar bem ou se erram mais do que eu jogando bilboquê, porque é você quem faz o show ser bom. Ou ruim. É claro que volume, limpidez e equalização contam pacas. Mas mesmo assim é você, e a sua percepção de tudo isso, que fazem a diferença. É você, às vezes com a colaboração do acaso, quem escolhe as companhias. É você quem conhece ou desconhece as músicas. É você quem está no pique de agitar ou na vontade de só tomar todas e quem sabe curtir o som, se o vômito não chegar antes.

Dito tudo isso, não sei dizer o quanto gostei do Pearl Jam. É público e notório que não gosto muito do Pearl Jam. Tampouco entendo o grau de adoração/devoção que cerca a banda. Mas poxa, é rock and roll. E poderia muito bem ser um baita show. E foi.

Foi porque foi um evento agitado e barulhento. Mesmo sem aquecimento a contento, teve uma ida divertida e uma parada surreal no estacionamento secreto do woiski. E veja só: ao descermos do carro, estávamos na boca da alegria, distantes apenas dois ou três quilômetros da Pedreira.

Foi também, e inclusive, porque foi na Pedreira - local capaz de evocar os espíritos inquietos de todos aqueles outros grandes shows. Quando entramos o Mudhoney já estava no palco. Som pesado pra caralho, não fosse o volume incompreensivelmente baixo. Pelo menos pude ouvir "Touch Me I'm Sick".

Avançando multidão adentro, chegamos num local legal pro início do show principal. Mas logo vimos que seria preciso chegar ainda mais perto pra poder ouvir a banda direito - o som estava realmente baixo. Pelo menos não estava embolado. Embolada só a voz do Eddie Vedder, ainda mais tentando falar longas frases em português. Em seguida, seguiram-se algumas músicas que eu desconhecia, entremeadas por hits que todo mundo cantava junto. Até arrisquei um ou outro refrão.

O melhor, pro leigão aqui, ficou pro bis. A cover de "I Believe In Miracles", dos Ramones, evocou o clássico show dos caras na mesma Pedreira. Aliás, vendo a galera toda, e eu mesmo, pulando, deu até pra filosofar um pouco: é impressionante a capacidade pulante que a música dos Ramones tem. Qualquer show deles era clássico emendado em clássico. E todos sacolejantes. Nem os Stones tem isso nesse grau de "Hey Ho!".

Outra cover demolidora foi "Kick Out The Jam", com a participação do Mudhoney Mark Arm, que aliás veio ao Brasil no meio do ano justamente como vocal do MC5.

Mas pra não dizer que não falei dos poréns, vamos a eles. Primeiramente, o som baixo, que não condiz com show de rock. Depois, a ausência de telões - o que, para um show deste porte, é imperdoável. Não adianta o Pearl Jam dizer que não é adepto de firulas visuais. Para um público de mais de 20 mil pessoas, um telão deveria ser item de fábrica. Porque se for só pra ouvir a música sem ver nadica de nada, melhor botar o CDzão no 3 em 1. E quem ficou lá pra trás, da mesa de som e luz até o morrinho de chegada (e tinha gente se acotovelando por tudo), o resultado foi um som de radinho de pilha e um brilho de luzes no horizonte. Por fim, a suspensão da venda de cerveja às nove e meia. Que que é isso? Show de banda amish?

Mas enfim, qual o sentido deste post? Afinal, eu gostei ou não do show? Não sei. Só sei que foi uma noitada excelente. E isso é mais do que suficiente.

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Pearl Jam - Pedreira Paulo Leminski - 30/11/05 (Por Nego Lee)



Introduzindo: eu nunca conheci muito do Pearl Jam. Nada contra. Só aconteceu. O único disco que tenho é o "Ten" - e ainda nem é meu. Assim sendo, desta feita, fui ao show dominando mais os assuntos de sexo e drogas do que esse tal de rock'n'roll. E mesmo assim saí chapado com o que vi e ouvi.

São tantas emoções. Vamos a elas:

Emoção de ver o meu amigo Pedro Franco - woiski, para os íntimos, ui! - excitado faz mais de mês com a vinda da banda da vida dele ao Brasil pela primeira vez. Inclusive, não perca na semana que vem, neste mesmo blog, o exclusivo relato do cara sobre o show dos gringos no Rio. Sim, ele vai.

Emoção de saber que o tal show provocou a ressurreição dos mortos-vivos e tirou de casa dezenas e dezenas de amigos e colegas que faz muito tempo já tinham se entregando à idade e à chatice (e que, graças a Eddie Vedder & cia., enfiaram com gosto o pé na jaca e na lama nesta noite inesquecível).

Emoção de poder estar novamente na Pedreira Paulo Leminski lotada, condição que faz dela o lugar mais lindo para se assistir a um show no Brasil. Tudo bem que eu não conheço muitos outros, mas foda-se. Um local que proporcionou Ramones, AC/DC e Pixies para a gente merece todos os elogios.

Emoção de cantar junto - ok, ok, embromar junto, eu confesso - "Last Kiss", "I Believe In Miracles" e "Kick Out The Jams" com um dos maiores vocalistas vivos da atualidade. E olha que eu só falei das covers, pois a apresentação também teve "Black" e outras obras-primas. Pena que não rolou "Baba O'Riley".

Emoção de descobrir que o moleque da cadeira de rodas que esteve no palco para a última canção é amigo do meu chapa Marco "Íris" Pupo e um puta fã do grupo em questã. Segundo o já citado meu chapa, o Leandro foi vocalista de uma banda dele e merecia a homenagem mais do que ninguém.

Emoção, enfim, de me sentir vivo. Alive!

E é/foi isso. Que em 2006 venham os FF - Franz Ferdinand e/ou Foo Fighters - e quem mais tiver que ser. : )

P.S.: Mais sobre Pearl Jam? No sempre bom e velho Lucio Ribeiro de hoje. E também nos sites de notícias da vida, que, para variar, escrevem cousas boas e grandes bobagens sobre tudo que acontece. Um exemplo de cousa boa? No UOL. Um exemplo de grande bobagem? No RPC. Só para variar. : P

quarta-feira, novembro 30, 2005

Claro Q É Rock - São Paulo - 26/11/05 (Por Nego Lee)



Como domingo foi o meu aniversário, um dia antes resolvi convidar um pessoal e contratar umas bandas para tocar na comemoração. E não é que foi uma festinha das boas? Veje só. : P

Busão saindo da Praça Oswaldo Cruz às 4 da madruga e começa a maratona. Maratona para mim, no caso, já que para todos os outros passageiros deve ter sido uma via crucis. Motivo? Este que vos fala agora começou a falar assim que subiu na parada e não parou mais. Rapaz, eu gostcho disso (e o povo do resto de todas as excursões que eu já fui na vida provavelmente não, mas azar). Chegamos em Sampa sei lá que horas e, depois de um macarrão forra-bucho no Shopping Butantã, partimos rumo ao local do festival. E, entre uma hora e outra, dá-lhe cerveza com certeza.

Devidamente paramentados para uma possível vingança dos céus capitaneada por São Pedro contra os humanos profanos aqui da Terra, nós - leia-se eu, meu compadre e nuestras adoráveis companhias morenas portando capas de chuvas nos bolsos e pochetes - entramos na Chácara do Jóquei umas sei lá que horas e o palco já presenteava os poucos presentes com uma das dezenas de bandas brazucas e desconhecidas convidadas para abrir os shows dos gringos. Caralha, esse parágrafo foi escrito quase com uma frase só. Estou escrevendo cada vez pior. Ou melhor, sei lá.

Até que, um ou dois cachorros-quentes depois, começa o róque. Cachorro Grande sobe no palco A ou B sei lá e só eu da turma pula/canta/berra/tromba/etc (com os outros malas me enchendo a paciência por isso). Saldo? Muita risada, só para variar. Os gaúchos foram muito bão e até a minha filha ouviu parte do show à distância, por celular, em uma ligação feita por ieu na mesma hora para ela. Em seguida, no outlo lado do lugal, Nação Zumbi entra em cena para um show pesado, pero lento, com escolha de repertório errada e aquela eterna sensação de falta do velho Chico.

Gringos em cena! O tal do Good Charlote é uma bobagem esquecível. Esqueça. Já o Fantomas, uma besteira insuportável. Experimentalismo cabeça em festival de cu é rola, Mrs. Mike Patton. Até que entrou a terceira banda internacional da noite... Pausa. Falando em internacional, o Internacional merecia ser o Campeão Brasileiro de 2005. Timão timinho! Fim da pausa. Continuando... E tudo mudou. Se os dois primeiros shows não-brasileiros foram uma droga, o próximo foi outra droga, mas uma droga daquelas boas, alucionógenas, prazerosas e surpreeendentes.

The Flaming Lips é o nome da melhor atração da noite. Tudo que você precisava saber sobre eles mas não tinha para quem perguntar não vai ser escrito aqui. Procure no Google que lá vai ter sobre a bolha inflável na platéia, os adultos vestidos de bichinhos e o telão engraçadão. O que eu tenho a dizer: é estúpida de tão boa a sensação que eles causam nas sensações. Dos olhos aos ouvidos, das canções originais às covers ("Bohemian Rapsody" e "War Pigs"), da evidente sinceridade à escancarada cara de pau, tudo no show dos caras é absolutamente empaudurecedor. Nota 10, mofada!

Iggy Pop na área! Não tocou "Search & Destroy", mas procurou destruir tudo que viu pela frente. Não tocou "Candy" ou "The Passenger" (nem nada da carreira solo), mas foda-se. O cara é o cara. A prova viva de que heroína só mata humano. E a velha iguana não é humana. É um ser de outro mundo, estriquinado e nascido para matar. Foi massa ver o cara xingando tudo e a todos, enlouquecendo tanto a gente quanto os seguranças e, de quebra, entrando na meia-noite com "I Wanna Be Your Dog", o "Parabéns Para Você" dos meus 32 anos e o mais diferente que já tive.

Para encerrar, Nine Inch Nails. Só tenho um disco dos caras e só conhecia a tal fase industrial da carreira deles, mas nada como um banho de luz no zóio e sonzeira forte na zorêia para conquistar uma pessoa e fazer qualquer um mudar de opinião. E nisso, os tais são profissionais. Juro: fazia tempo que eu não via uma iluminação tão poderosa e um sistema de som tão arrebatador como o dessa banda. Tanto que passei mal e pedi ar no meio da apresentação. E não, não foi porque eu estava bebendo fazia mais de 24 horas não. Afinal, eu sou brasileiro e não desisto never.

E é/foi isso. Que venha hoje o Pearl Jam. : )

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Claro Q É Rock - São Paulo - 26/11/05 (Por Nery)



Impossível fazer um post breve quando o dia em questão teve todas as suas 24 horas literalmente lotadas.

Então, alonguemo-nos e pronto. Pra começar, lembro sonolentamente que o tal dia em questão começou às 3 da manhã. Cara lavada, cerveja congelada e mochila do Batman arrumada. Só faltava chamar o táxi. Ok, táxi chamado, chegado e pronto, lá estávamos, eu, a Heidy e o sono, a caminho do ponto de encontro pra pegar o busão. O Nego já esperava por nós. E pela Milena. E com a chegada dela, só faltava mesmo esperar pelos retardatários de sempre para partirmos alegres e contentes e saltitantes rumo a seis horas de (boa) viagem. Sono? Não, cerveja. E animação, papo bom, piadas ruins e risadas muitas. Tudo muito divertido não fosse o resto do ônibus, que parecia estar numa excursão para Aparecida do Norte (eu minto e exagero, claro, pois alguns bons companheiros de viagem pelo menos riam das nossas piadas ruins). Como não erramos de ônibus, erraram os incomodados. Pois então que se mudem. E se mudaram. Pelo menos o carinha de cabelo pra frente e sua respectiva de cabelo colorido e cara feia. Tchau. Mais tarde rolou um DVD de vampiros com o Christopher Lee. Melhor tirar uma pestana que sabe-se lá quando a oportunidade se repetirá. Restou só uma dúvida num dos vários abrir-e-fechar de olhos: vampiro morre com água corrente? Porque o do filme morreu, afundando num laguinho congelado.

Chegamos cedo. E com tempo feio. Nem garoa da terra da garoa era mais: era chuva mesmo. Por isso, o jeito foi comer num shopping. Como se diferente fosse se encontrássemos um sol brilhante pela frente. Ou acima da gente, que seja. Mas como andar em shopping, qualquer shopping, é sempre igual, não tenho nada pra comentar deste intervalo de tempo modorrento. Até batermos um rango, já que isso é sempre bom. Aliás, bom (e bastante) foi o prato de massa à minha frente. E nem caro foi. Impressionante. De resto, hora de retornar ao busão. Ainda bem, que já estava batendo uma mandriice braba. Hora de trocar a camiseta, se entupir de cápsulas de guaraná e cantar aquela do Iggy Pop: "We're Not Gonna Take It", claro.

A tal Chácara do Jockey, local do evento, ficava enroscada bem no meio de ruelas cheias de lançantes. O ônibus teve que nós jogar a muitas léguas da entrada. Mas tudo bem, que o cansaço físico ainda era pouco a esta hora. Ficava evidente então a primeira (de poucas) falha organizacional do show: o acesso. Na entrada principal, carros e pessoas dividiam um espaço quase inexistente, numa rua digna de cidadezinha italiana, daquelas onde rodam filmes que têm aquelas perseguições de lambreta por vielas estreitas. Melhor entrar, que logo começaria o show do Cachorro Grande e alguém, que eu não vou dizer que Nego era, queria porque queria ver.

Entrada tranqüila. Deve ter piorado à noite, mas aí o problema não era mais meu. Revista tranqüila também, com detector de metais e sem mão no saco. Banheiros tranqüilos e até mesmo limpos (àquela hora, claro). Mas que, por ficarem meio escondidos, nunca estiveram lotados, mesmo durante o fervo. Cerveja bem cara, claro, mas pelo menos decente: Bavária Premium. Havia um boato terrível de que seria a tal de Conti, mas era infundado, graças aos deuses nórdicos (que até onde eu sei são chegados numa cana). Aliás, o boato segue agora para o show do Pearl Jam (vamos orar novamente, irmãos). A comida também era cara, com um cachorro-quente saindo por cincão. Melhor opção foi o yakissoba a dez pilas, que matou a minha fome (e a da Heidy no mesmo prato) até quase o finzão da noite. De resto, mais um ponto pra organização: dois palcos. O que a princípio me parecia ser um contra-senso, por exigir deslocamento a cada show, se revelou uma bela sacada para liquidar os tradicionais atrasos. Cada show começava grudadinho no que acabava de acabar. E se você não precisasse mijar ou comer ou sei lá o quê, era possível chegar relativamente perto do palco a cada guinada de 180º. Por outro lado (ou dos dois lados), o que incomodava pra caramba eram as gruas com câmeras na ponta: trambolhos que, a cada travelling, tampavam a visão de todos que estavam atrás. E pra ajudar a piorar, os telões redondos eram pequenos e tinham uma resolução porca. Isso ajudou na nota baixa de alguns shows (continue lendo pra saber mais).

Quando entramos na parada, uma daquelas bandas vencedoras das seletivas do Claro Q É Rock estava tocando e tentando abocanhar também o grande prêmio que eu nem sabia e nem queria saber qual era. O som não ia além de um nhé, se bem que, como bem falou o Nego, fica difícil chamar a atenção num festival desses apenas com música própria (e desconhecida), muita vontade e toda plenitude da luz do dia. Só mesmo se mostrar o pinto e chamar todo mundo de nome feio.

Mas vamos aos shows:

- Cachorro Grande - eu não gosto do Cachorro Grande. Dito isso, vale dizer que o show deles fez a galera pular e cantar, obviamente contando com uma ajudinha da MTV e daquele CDzinho acusticado das bandas gaúchas. Mas não me pegou. Continuo achando os caras com cara de Garotos Da Rua reciclados para os anos dois mil, com mais pose, figurino da mod, boinas idiotas e o já manjado "resgate da sonoridade sessentista". Posso estar errado. Mas não acho que estou. Sem falar que no show rolou uma música esticada com virtuosismos bluezy que conseguiu ser ainda mais pé no saco do que todas as roquices normais dos caras.

(Após o show do Cachorro Magro, ou Grande, que seja, mais três bandas concorrentes tocaram no Palco B. E a gente aproveitou para conhecer e descansar um pouco no lounge, que ficava lá lounge - adoro trocadilho ruim).

- Good Charlotte - desde que chegamos ao local dos shows reparamos que as camisetas dos Good Chattope proliferavam como moscas do lixo nos peitos sem peitos de garotinhas de no máximo 13 anos e meio. E foram elas que, em bando, ficaram gritando na boca do palco, além de grudarem como carrapato na toalha, ou cueca, jogada por alguém da banda. As que estavam atrasadas entravam correndo desesperadas, com suas mães e tias e tios e pais e sabe-se lá mais quem correndo atrás, com cara de "quequeutôfazendoaqui?". A despeito do show irritante, como de toda banda emocore que se preza, a inclusão dos Cu Xarope foi um acerto do ponto de vista organizacional, pois levou uma galera que nunca sairia de casa pra ver as boas bandas do festival, mas que pagou o ingresso pra ver lixo, vazando logo em seguida porque precisava estar na cama antes das dez.

(Bem antes do show-baba acabar nós já esperávamos diante do Palco B pela entrada da Nação Zumbi. E não é que o Wayne Coyne, líder dos Flaming Lips, me sai sorrindo dos bastidores, avança pelo palco e joga um balão gigantão pra galera se divertir? Cara legal esse cara.)

- Nação Zumbi - banda de responsa. Dizem que o Wayne Coyne se impressionou com o bati-cum-bum vigoroso. E com a presença de palco do vocal Jorge Du Peixe. Imagine se ele visse a banda na fase-auge do Chico Science, com suas danças e disfarces maracatueiros. Além disso, o Chico era um puta compositor pop, um hitmaker mesmo. Até por isso as canções atuais (exceção para "Quando A Maré Encher", que por acaso não é da Nação e não é viajandona como as outras) não levantaram tanto assim a galera como quando "Manguetown", "Cidadão Do Mundo" e "Da Lama Ao Caos" brotaram poderosas das poderosas caixas de som. É chato comparar. Mas é inevitável. Um grande show, anyway. Daqueles que não devem nada aos gringos.

- Fantomas - nas palavras do próprio Mike Patton: "nosso som não combina muito com festivais. Quer dizer, basicamente é um pé no saco pra ouvir." O cara está certíssimo. Mas mesmo assim, foi um show fundamental. Senão quando poderíamos esvaziar as nossas bexigas e voltar a enchê-las com mais cerveja cara?

- The Flaming Lips - mágico. Em quantos momentos de sua vida você conseguiu usar este adjetivo? Poucos, obviamente. Para mim, um deles foi este show. Show não, espetáculo. Evento. Sei lá. Momento mágico feito pra gente ver, ouvir e guardar. No coração. Feliz da vida. Ao contrário da trupe de gentes vestidas como bichos de pelúcia que invadiu o palco já no início do show, o povo da banda não usa máscaras (coisa tão comum no rock and roll). Ficam ali, zanzando pelo palco antes do show, ajudando a acertar o ângulo do telão, o som do teclado, o volume do vocal. E quanto Mike Patton pára de fazer o seu barulho chato do outro lado eles entram. Pra história. Pra minha história. Se empatia instantânea tem um nome, ela se chama Wayne Coyne. O cara simplesmente comanda a massa como se fosse um amigão de longa data. Quando canta, por vezes falseia, por vezes desafina mesmo, e tudo continua coeso nesta festa tão bem armada. Vale dizer que Wayne não subiu no palco pra começar o show. Ele desceu do espaço numa bolha/nave/cápsula. E caminhou sobre os mortais, ou tentou, pelo menos. Tudo ao som da bela e episódica "Race The Prize". Em seguida rolou um karaokê maluco de "Bohemian Rhapsody", com a letra da música no telão. Só pra ganhar uma platéia que já estava ganha. Seguiram-se os semi-sucessos-meio-obscuros do último CD: "Fight Test", "Yoshimi Battles The Pink Robots" e "Do You Realize?". Depois a tal "Cow Jam" - com um surreal duelo entre guitarra e um daqueles pianinhos infantis com sons de vaca, pato e outros bichos, a ótima canção/hino "The Gash" e a maravilhosa e clássica "She Don't Use Jelly". Tudo não necessariamente nesta ordem. E tudo com direito a chuva de serpentina e papel picado, balões coloridos, mãos gigantes e fantoche de freira. Destaque ainda para o guitarrista/tecladista/backing-vocal/megafonista Steve Drozd, que mesmo com sua roupa inflável de Papai-Noel preencheu com melodias certeiras os delírios visual de seu líder. O grand-finale ficou para a demolidora "War Pigs", do Black Sabbath, em homenagem ao presidente Bush. Matador. E mágico.

- Iggy Pop & The Stooges - Ainda flaminglipstasiados, tivemos de correr pra garantir um bom lugar no que deveria ser o show da noite. Mas a bexiga solta de todos acabou por nos deixar num local ingrato. Quando Iggy entrou no palco, só víamos a grua e, logo depois, um bando de bolas infláveis da Claro, que algum idéia-de-jerico achou que seria supimpa no show do pai/mãe/avô/avó do punk. Antes de falar mais do show, um adendo (ou confissão) - eu não sou exatamente um profundo conhecedor do brevíssima carreira dos Stooges. Manjo os clássicos, manja? Então, vibrei muito com "No Fun", "1969" e as duas execuções (quase no sentido marcial da palavra) de "I Wanna Be Your Dog". Mas em outras canções simplesmente não entrei tanto assim no clima, ainda mais pela distância (continuávamos nos locomovendo pra tentar escapar da tal grua). E porque eu cheguei a pensar que o nome Iggy Pop à frente significaria talvez alguns petardos clássicos de sua extensa carreira solo, que por incrível que pareça eu conheço mais do que o seu passado tão incensado com os Stooges. Uma "High On You", "China Girl" ou "The Passenger", ou até mesmo um lado B como "Loco Mosquito" já me faria ainda mais feliz. Ou então "Raw Power", do terceiro disco dele com os Stooges, e que foi solenemente esquecido. Faltou ainda eles tocarem o "Parabéns Pra Você" pro meu compadre Nego Lee, mas a gente cantou alto o suficiente pra chácara inteira ouvir. E mesmo com todas essas ausências musicais e com todas as deficiências de localização, o velhinho mata a pau. Fez a galera subir e se esbaldar no palco, deixando loucos os seguranças - e isso não foi "armação", porque mesmo à distância a gente sentia o clima de tensão no ar. Pensei que aquilo não teria mais volta e que o show morreria ali mesmo, no caos. Mas tudo se resolveu e o velho continuou pulando e contagiando até o bis que aparentemente não queriam dar pra ele (ahlôco).

- Sonic Youth - foi um show enviesado, viajandão, pra fã. E eu não sou fã do Sonic Youth. Estou mais pra conhecedor de primeira viagem. De cara, os caras (e a guria) tocaram quatro músicas do último disco, a climática "I Love You Golden Blue", a bela e calminha "Stones", a mais animadinha "Pattern Recognition" (pena que o microfone da Kim Gordon estivesse meio baixo) e a meio Neil Young light "Unmade Bed". Tudo com as já esperadas distorções e microfonias e guitarreadas. E convenhamos que às vezes isso soa meio chatinho. O show começou para mim com a quinta música, "Schizofrenia", com a sua levada e vocal meio New Order (pra mim, pelo menos). E teve ainda a maravilhosa "Teen Age Riot", do clássico "Daydream Nation".

- Nine Inch Nails - duas da manhã. O pique, qualquer que fosse, tinha nos abandonado. Mas ainda tivemos força para achar um bom lugar, longe de gruas e relativamente perto do Palco A. Lá em cima, uma puta estrutura já estava montada. Ao meu redor, um clima sombrio, onde zumbis ressuscitados pelo Marilyn Manson me cercavam, aparentemente ávidos por um naco do meu cérebro. Mas antes que isso acontecesse, Trent Reznor e sua trupe invadiram o palco descendo porrada com a eletrônico-alucinada "Wish" - "This is the first days of my last days". O som no volume máximo, o efeitos de palco - como quando os recordes do chão e do teto iam ficando avermelhados e ígneos como uma radiografia do inferno, a iluminação caprichada - valorizando muitas vezes as sombras dos músicos; tudo muito do legal. Parece que só o Trent Reznor não gostou, e até por isso não tivemos bis. Eu ainda gostaria de ter ouvido o hit "Perfect Drug", que eles nem tocam. E também "Heresy" e "Something I Can Never Have". É claro que depois de uma hora de show a barulheira cansa e se torna um pouco repetitiva. Para mim, pelo menos, foi assim. O jeito foi sentar um pouco, que a idade às vezes pesa.

Fim de show, fim de festa. Desmaiei/amos no ônibus pra só acordar em Curitiba. Prontos pra hoje. Eita!

(Link de vídeo aqui.)

segunda-feira, novembro 28, 2005



Ontem foi aniversário do Nego Lee. Tá, e daí? Ah lôco, rimou.