quinta-feira, outubro 20, 2005

Caro Cláudio,

Não me lembro do dia em que te conheci. Como um irmão ou um pai que a gente não tem consciência de quando eles aparecem na vida da gente, você estava sempre lá, em todos os lugares das minhas mais longínquas lembranças.
A verdade é que você foi a criança mais chata que conheci, eu confesso. Mas tudo bem seu Cláudio, afinal nenhuma brincadeira teria graça se não existisse alguém para fazer o índio, ou o bandido, alguém precisava ter um Playmobil do mal ou o Torak. Nenhuma partida de futebol tem graça sem um cabeça-de-área truculento, fominha e brigão. Você adorava vestir a capa preta, adorava fazer esse papel. Por que você era tão diferente de todo mundo?
"Orra, meu!" Vai lá, Cláudio. Não vamos brigar por isso, não dessa vez.
Sabe uma das coisas que mais me irritava em você? Esse cabelo, juro. Digno dos apelidos mais estranhos que já deram a uma pessoa: Chacrinha!? Bozo!? Isso não é um apelido, é um insulto (Oh! Lôco, meu! Eu não agüentava!). Mas o mais irritante disso tudo, foi ver você chagando lá em casa, careca, depois do resultado do vestibular. Arrancar aquela coisa era um direito meu, entende? Tudo bem que não melhorou a aparência, mas tinha quem gostava. Vai entender, né Luciane? Aliás, a senhora tentou roubar o Cláudio de mim quando ele tinha apenas 17 anos. Mas eu venci: fui padrinho do casamento e ainda emprestei meus pais para serem avós da sua filhinha. Diga-se de passagem, uma versão bem melhorada do Cláudio quando tinha a mesma idade.
Das peixadas eu lembro você roubando no truco, com aquele sorriso irônico de canto de boca, sabendo que todo mundo sabia que você estava com metade do baralho embaixo das pernas. Isso era irritante demais, a menos, é claro, que eu fosse a sua dupla.
A paixão por futebol principalmente pelo Inter, excedia os limites da minha paciência. Parecia um disco riscado. Falando em disco, acho melhor nem comentar você com aqueles vinis do Nazareth embaixo do braço. Até para música você era irritante.
O engraçado é que esses dias eu descobri mais uma coisa que me irrita em você, Cláudio: saber que a partir de hoje até o fim da minha vida, você não vai mais fazer parte das minhas lembranças. Tudo bem, seu chato, eu sigo por aqui. Mas quero que você saiba que os 30 primeiros anos, desde o dia que não me lembro que te conheci até hoje, valeram a pena. Ou como você diria: "Pucarana, meu! Que legal!"
Bom, dito isso, vou terminando por aqui. Tenho muito a fazer ainda e sei que você quer descansar um pouco. Mande um abraço para o pessoal daí, a lista é grande e você conhece todos. Prometo dar uma passada em sua casa de vez em quando para ver se está tudo bem. Prometo também tomar umas com o pessoal para rir dessas histórias.

Mande lembranças, sempre.

Um forte abraço,
André

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