- Eu fui excrementado, véia duma figa!
Já era a quinta vez que Lonamílson explicava sua situação para a doce senhora que ele havia encontrado no meio da faixa de pedestres de uma rua movimentada do centro.
Nas outras quatro vezes ele até que tinha sido educado, mas para quem está deitado com as duas pernas e um cotovelo quebrados, além da orelha descolada do rosto, é compreensível que se perca a paciência rapidamente. Além do que, a velha não tinha nada que ficar lá incomodando o pobre coitado. Tudo bem que ela era cega, e por isso mesmo achou estranho cutucar um corpo com sua varinha dobrável no meio da rua. Outro atenuante é que ela também era meio surda, o que complicou ainda mais a sua compreensão da cena. Com todos aqueles carros buzinando perto do seu ouvido, então, você imagina o caos.
Mas Lonamílson não estava nem aí para os problemas da velha. Ele estava era ali, estatelado no chão, gemendo e se sentindo como um pacote de ovos quebrados. Tentava refazer mentalmente a cagada que havia cometido para acabar daquele jeito, e a simples lembrança já era penitência suficiente.
Os curiosos ele sublimava - ficavam apenas olhando e fazendo cara de espanto. Duas mulheres desmaiaram. Um sujeito engomadinho deu um grito histérico, deixou cair sua pasta e saiu rebolando com a mão na testa feito um pavão desmunhecado. Um piá gordinho, daqueles que a camisa da escola mal esconde o umbigo e que parece viver com um sorvete de casquinha na mão, se agachou e perguntou como ele conseguia fazer aquilo de dobrar a perna para a frente. Mas Lonamílson nem ligou para eles.
A porra da velha é que o estava tirando do sério.
As sirenes já davam ao longe o ar da sua (des)graça quando ele agarrou a vara da velha com a mão boa que lhe restava e... bom, o resto da história é muito triste para ser contado aqui. Coitado do Lonamílson.
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