quarta-feira, fevereiro 06, 2008
O táxi passava por um bairro afastado de Paris. Iam o motorista, ao lado dele sei lá quem, eu no banco traseiro e, do meu lado direito, um senhor marroquino com cara de afegão, barbudo, mas vestido como um bispo da igreja ortodoxa russa. O céu estava cinza e o carro andava rápido por um extensa avenida que se prolongava por uma imensa e suave curva à direita. Olhei para esta direção - portanto com o velho marroquino-afegão desfocado em primeiro plano - e pude ver pelo vidro gorduroso uma fábrica antiga. O carro andava e a fábrica nunca acabava, com seu ar centenário, suas paredes expondo os tijolos marrom-acinzentados que se confundiam com o céu. O velho ortodoxo me falava sobre aquele lugar num português surpreendente e sem legendas. Olhei então pelo vidro traseiro e vi a fábrica ficando para trás. Eu vivia uma expectativa infantil, por isso pedi para alguém tirar uma foto. O senhor marrocofegão tirou uma handycam da bolsa (ele tinha uma bolsa hippie) e apontou para mim, mas era o contraplano do meu ponto de vista e eu queria era registrar a cena da fábrica então foda-se deixa pra lá velho do turbante que imagine claro que não era um turbante e sim um chapéu da igreja ortodoxa que lembrava um quadro bizantino. Enfim, o táxi parou e o velho bizantino disse que era ali que eu tinha que descer. Pisei na areia molhada e reconheci a casa de praia da minha avó. O táxi foi embora. E agora? Acordei com uma puta vontade de mijar.
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