Vote Nemim
É impressionante como as campanhas políticas não conseguem apresentar nada de novo. Nunca. E já que tudo o que elas fazem é abusar da repetitividade, eu também vou me repetir: falando mal das campanhas políticas.
Ainda mais neste ano, diante de uma campanha tediosa como a de Curitiba, que nem cosquinha de disputa é capaz de gerar. Mas afinal, como gerar disputa ou interesse se é tudo muito chato, calcado em clichês pra lá de batidos e com clima déjà vu demais?
Senão vejamos se desta vez faltou alguma coisa da cartilha mequetrefe dos marketeiros políticos padrão standard:
- Sotaque forçado "LeiTE quenTE" - confere. O candidato pode ter vindo do Rio ou de Maceió, mas vai falar o E como E e pronto.
- Depoimentos "Eu vou votar no fulano de tal" - batata! Mas quem é que cai nessa de que o depoimento é verdadeiro? E o que me importa se o outro vai votar em quem quer que seja?
- Jingles irritantes – sempre. Em todos os estilos repudiáveis da nossa vasta tradição musical xarope. Às vezes um candidato a prefeito com pouco mais de um minuto tasca lá um jinglão sacal de 45 segundos e acaba não falando mais nada que preste. Se bem que eles nunca têm coisa que preste pra falar, talvez por isso os jingles.
- Som da urna eletrônica – argh! Eu já acho um saco ouvir o “trililim” na hora de votar, por que diachos então tenho que ficar ouvindo essa merda a torto e a direito antes do pleito?
- Gravação "altar de igreja" – essa é mais comum nos partidos pobrinhos, coitados. Sei lá em que galpão eles gravam, mas seus programas ficam um eco-eco-eco e uma reverberação de gravação que sugere que a mesma foi feita em uma gigantesca nave de uma gigantesca igreja. Não dá nem pra ouvir as propostas (ainda bem). Até parece que os pobrinhos fazem de propósito para parecer que são pobrinhos, coitados.
- Teatrinho estilo "novela da CNT" – uns atores mequetrefes e super-overs forçando diálogos improváveis, com entonações absurdas e argumentos idem. Pior ainda quando tentam temperar o sketch com um humor tipo "a praça é nossa", só que ainda mais sem graça (sim, isso é possível).
- Fotos photoshopadas ao extremo – isso é doido. Você vê um cartaz de candidato e quando vê o mesmo na TV, não é o mesmo. Mesmo maquiado e etc e tal, o cara na TV ainda tem alguns pés-de-galinha, rugas e manchas na cara, todos devidamente limpados na foto do santinho. Ou seja, talvez não seja mesmo o mesmo, pois a gente bem sabe que no fundo é tudo maquiagem mesmo, inclusive o discurso.
Tem mais coisas que nem lembro (e nem sei se quero lembrar) agora. Sem falar nas coligações gigantes que, quando são citadas no fim dos programetes, parecem coisa de locutor de corrida de cavalos falando na língua do pê.
Ah, e não dá pra esquecer dos vereadores e seus clichês próprios:
- Slogans rimadinhos – será que eles acham que isso é legal? Que por conta disso o eleitor vai gravar o nome do cara e coisa e tal? Eu acho tudo um absurdo sem igual.
- Os revoltadinhos – aqueles que batem na mesa, ficam vermelhos de raiva, vociferam palavras de ordem, falam de ética e renovação e moralidade, mas depois, na hora das propinas, são os que mais sabem ficar bem comportados e quietinhos.
- Os poéticos – são nobres, exibem um ar profundo, às vezes deixam até transparecer um livro nas mãos. Falam empolado e divagam sobre um mundo irreal de idealismo e esperança, enquanto nutrem a esperança de encontrar a bocada ideal depois de eleitos.
- A turma da decoreba – alguns tentam ler no teleprompter (quando ele existe), outros decoram e falam como se estivessem no jogral da escola. Pena que não convencem nem mais a mãe que, pelo menos na escola, ainda aplaudia orgulhosa.
- Os lutadores – são aqueles com espírito de Rocky Balboa, prometendo lutar pela saúde, pela educação, pelos bairros distantes, pelas crianças sofridas, pelos pingüins errantes, pelos poodles de madame e pelo que mais der na telha.
- Os que a gente deveria saber quem são – eles chegam com aquela ladainha de “você me conhece”, mas geralmente a gente não faz a menor idéia de quem sejam e, se faz, tem vontade de não ter conhecido.
- "Serei a sua voz na câmara" – e antes mesmo de votar eu decido fazer voto de silêncio.
- “Peço o seu voto” – sério? Pede mesmo? Com que moral?
Além de tudo disso, ainda temos os apelidos absurdos que alguns cabras escolhem, nomeando suas estúpidas trajetórias políticas com alcunhas ridículas e, por incrível que pareça, deveras pertinentes.
E segue o sofrimento, até o dia 5 – e mais além pra quem tem segundo turno. Tudo para fazer a gente sofrer ainda mais depois dos pleitos e das pomposas posses. Faz sentido?
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