quinta-feira, março 05, 2009

“Coraline e o Mundo Secreto” (Henry Selick)



Medo é um treco infantil por natureza, pelo simples fato de que é complicado justificá-lo, na maior parte do tempo. Por isso mesmo, nada mais natural que existam (ainda que de forma rara) filmes infantis capazes de apresentar este medo irracional para as crianças de hoje, assim como nós pudemos conviver, quando rebentos, com o medo da bruxa de “Branca De Neve”, com a surrealidade de “Os 5.000 Dedos Do Dr. T” ou com o diabólico “O Bebê De Rosemary”, embora eu ainda ache que este último filme, muito provavelmente, não devesse ter feito parte da minha infância.

“Coraline E O Mundo Secreto” é assim: de meter medo. Aquele medo do desconhecido, do inusitado, do mundo perfeito que todos nós sabemos que pode ser tudo, menos perfeito.

Melhor ainda é que todo o medo contido neste filme se traduz no clima, no ritmo, na capacidade de apresentar sutilezas discrepantes, e crescentes, que demonstram o “algo errado” que existe no tal mundo secreto. E nada de sustos óbvios. Ou clichês básicos de ação ou tensão.

Culpa de Neil Gaiman, em parte, penso eu. Afinal, este cara consegue meter medo de forma simples em enredos nem tanto. E consegue criar mundos particulares com inúmeras particularidades neilgaimanianas, mesmo quando escreve, teoricamente, para crianças.

Culpa também de Henry Selick. Ele é capaz de fazer mundos (e medos) impensáveis existirem na realidade do stop-motion, e com uma precisão e um nível de detalhe também impensáveis. E consegue pensar e filmar em 3 dimensões de forma coerente e bela, quase nos colocando dentro de cenários perfeitos, climáticos, surreais e belos.

É, usei “bela” e “belos” numa mesma frase, e não foi por acaso. Assim como não foi por acaso que “medos” estava no mesmo parágrafo. É que, não por acaso, este filme consegue a proeza incrível de tornar belo o medo, e medo o belo.

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