quarta-feira, março 18, 2009

Diferente para Sempre



A garoinha fina insistia em cair. Ou em flutuar no ar, melhor, porque de tão fina e leve quase nem conseguia chegar ao chão. Ficava suspensa, molhando por mais tempo os rostos cinzas que iam e vinham e vinham e iam. Quando então, do nada, um rosto sem nada de cinza cruzou o seu campo visual. O café que ele bebia no café, quase tão sem açúcar quanto todos os outros rostos vistos durante as horas anteriores, foi deixado pela metade. Ele sabia que deveria seguir o rosto que não era cinza. Havia uma razão que ele desconhecia para os seus passos apressados.

O rosto nada cinza pertencia a uma mulher linda, feita de cores e luzes. Nada difícil de seguir. Era como se a vida só existisse nela. Talvez por isso ele não se importasse em trombar nas outras pessoas - elas não tinham vida nenhuma para ser perturbada pelos encontrões. Foi chegando mais perto. O brilho aumentava. O perfume suave e único já podia ser sentido. Foi quando a mulher feita de vida, luz e cor pôs-se a atravessar a rua. E ele, ao tentar fazer o mesmo, viu o sinal cinza fechar. E ela se distanciar.

Foi quando gritou. Um grito besta, alto e estranho. E assim como o resto do mundo, ela também parou. E se voltou para ele. No segundo seguinte, o resto do mundo voltou a viver a sua vida cinza, posto que o grito se revelou só um ruído, mas ela, ela permaneceu parada do outro lado da rua. A observá-lo.

E então, ela sorriu para ele. Um sorriso tímido e breve. Breve e insuficiente, posto que no momento seguinte ela seguiu em frente. E desapareceu entre os tantos outros cinzas que desciam a escadaria do metrô junto com ela.

Ele ficou ali parado, quase podendo vê-la no lugar antes realmente ocupado por ela. E de repente seus lábios começaram a se curvar. As extremidades onde eles se encontravam começaram a subir pelo rosto. E ele sorriu. E seguiu o seu caminho. Meio cabisbaixo, como sempre. O suficiente para que pudesse ver as suas mãos naquele ir e vir constante. E eis que elas pareciam deixar o cinza para trás. E brilhavam naqueles tons de pele e luz e sombras que ele esquecera existir. E o sorriso não mais o deixou. E ele se foi, diferente, para sempre.

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