quinta-feira, maio 14, 2009

Ao Vivo Também Se Morre (Ou O Colapso Da Acefalia Global)



Ele não gostava da Ivete. Nem do Ronaldo. Nem do Rubinho. Nem do Obama. Nem da Maísa. Nem do Lula. Nem do Galvão. Nem do Jô. Nem da Paes. Nem do Sarney. Nem de ninguém. Principalmente se este ninguém vivia na mídia. Porque afinal, quase ninguém em exposição na mídia consegue deixar de ser mala. Justamente por isso ele sonhava em matá-los. Todos. Nenhum mala deveria sobreviver. Só assim a vida seria novamente vívida.

Para matá-los, todos, era preciso um plano. Um bom plano. Um plano perfeito. E ele o arquitetou. Com minúcia e dedicação. Com esquemas e anotações. Com armas e bombas. Em segredo e em sincronia. Todos morreriam no mesmo dia. E na mesma hora, talvez. Uma mensagem para todos aqueles que sonhavam em ser malas também. E então tudo ficaria bem.

O plano foi posto em prática. Com precisão milimétrica. Ele era, em última instância, um gênio. Da química e da matemática. Da estatística e da balística. Do cálculo e da tecnologia. Da probabilidade e da sorte. E quanto apertou o botão, uma bomba de dois estágios foi acionada sobre o palco da Ivete. A primeira explosão levantou a saia da moçoila. A segunda distribuiu seus pedaços para a platéia. Com o Ronaldo, foi durante o jogo. O sistema de entrelaçamento da microscópica malha metálica tecida sob o seu uniforme foi acionada à distância, apertando o corpo do jogador cada vez mais, esmagando carne, ossos, órgãos e tudo mais, até o pobre homem cair morto e, finalmente, magro de verdade. Com o Rubinho outro tipo de tecnologia foi utilizada para o extermínio. Na última volta da corrida do dia, uma explosão supersônica foi ouvida, enquanto o bólido do piloto disparou numa velocidade indizível, ultrapassando todos os outros carros até desintegrar-se numa poeira melancólica justamente quando ia cruzar a linha de chegada. Para todos os efeitos, ele não completou a prova. O Obama, coitado, morreu fritado ao levar um choque high-tech de seu blackberry modificado. A Maísa simplesmente teve suas baterias trocadas por evereadys de 1.000.000 de volts, que torraram a pentelha ao vivo ao mesmo tempo em que revelaram o que todos já sabiam – ela era mesmo um robô. O Lula morreu ao minimizar os inúmeros tiros de escopeta recebidos, dizendo que ele e o Brasil superariam isso. Para o Galvão, ele resolveu que era preciso agir pessoalmente – afinal, até o mais duro dos serviços precisa trazer alguma diversão. Por conta isso, foi o próprio arquiteto da morte que entrou na cabine de imprensa do Maracanã, simplesmente enfiando o microfone goela adentro do locutor, calando sua boca para sempre, como sempre pediam aqueles vários cartazes nas arquibancadas. Teve ainda o Jô, o único que recebeu uma chance de se redimir, já que a bomba em seu esôfago só seria acionada se ele realmente não deixasse os seus entrevistados falarem por mais de 5 segundos. O coitado não conseguiu nem mesmo chamar o primeiro break comercial. A Paes morreu prensada na tradicional câmara de tortura hindu, para parar de se achar uma vaca das Índias, visto que não passava de uma nacional mesmo. E o Sarney, por fim, morreu espancado, esfaqueado, baleado, escalpelado, empalado, extirpado, queimado, enforcado e esquartejado – e todos acharam pouco.

Muitos outros semifamosos foram mortos também, mas como ninguém liga para ex-BBBs e outras beldades-relâmpago, os assassinatos e “acidentes” se resumiram a notas de rodapé em jornais sensacionalistas.

Ao final de seu plano perfeito, ele se conectou a todas as redes de TV do país, e mais algumas do mundo de lambuja, para explicar a todos o que haviam presenciado. “Não há mais lugar neste mundo para idiotas midiáticos!”. O povo vibrou. Muitos foram às ruas. Ele tinha se tornado um herói. As emissoras rapidamente encontraram o seu sinal pirata e telefonaram implorando para que ele não saísse do ar, pois os índices de audiência estavam nas alturas.

Ao perceber que tinha se transformado no que mais odiava, ele não vislumbrou outra alternativa: tomou nas mãos o seu revólver de estimação e espalhou seus miolos pelo mundo todo, via satélite e em alta definição.

3 comentários:

Diego Zanelato disse...

Adorei o texto!Parabéns!

Abraço!

Diego Zanelato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Radamés disse...

Parabéns. Um conto divertido, criativo e crítico.