quinta-feira, junho 04, 2009

Vida Própria



Um dia desses, em meio à chuva, ele olhou para a viúva da casa ao lado, que só era viúva para formar a primeira rima pobre deste texto mal-enjambrado. E a viúva comia uvas, numa imagem diáfana que lhe deixou sem ação, e que me deixou sem rima. Entre as janelas das duas casas vizinhas, só a chuva caindo fininha. E ele, de olhar fixo na viúva gostosa - que nunca antes havia visto como tal – pensava sandices que no fundo nem faziam tanto mal. Era ele um viúvo triste também, como convém a uma história assim. No fim, ficariam juntos, já que eu, como autor da trama, não antevia reviravoltas nem mudanças, e seguia sem muita esperança de fechar tudo com jactância. E o viúvo, tomado de coragem abrupta, culpa talvez de sua impaciência para com o dono desta pena irresoluta, abriu a porta de casa disposto a tocar a campainha da vizinha. O que dizer, ele ainda não sabia. Mas sorria. Por certo uma desculpa esfarrapada surgiria durante a travessia daquele jardim repleto de inesperada alegria.

Inesperado também foi o raio fulminante que cruzou os céus para atingi-lo em cheio, fritando esperanças e devaneios. E antes mesmo do trovão, o viúvo já jazia sem vida no chão. E tão surpreso quanto o morto se viu o autor deste conto torto. Às vezes as histórias têm vida própria, sem rima, sem graça, sem sentido algum.

4 comentários:

Dani disse...

Olá!
Tenho um blog voltado (principalmente, mas não exclusivamente) para a mulher.
Nele reproduzo tudo de interessante que leio por aí sobre sexo e sexualidade. Ficaria muito feliz com a sua visita e, se quiser, seu comentário ou sua crítica.
O endereço é
pontorouge.blogspot.com
bjs

Sophie disse...

Estava com saudade desses textos!

Claudia disse...

Adorei seu blog..muito gostoso de se ler

rayssa gon disse...

hahahaha chocante!!

um comentario que rima como fim desse conto ... brochante. pelo menos pro viuvo foi, eu acho.

beijo :)