Rolling Stones - 18/02/06 - Praia De Copacabana - Rio De Janeiro
Sonolento demais para concatenar as palavras. Cansado demais para digitá-las. Extasiado demais para encontrar as mais condizentes. Mas it's only Rolling Stones, gente. Só que com eles nada nunca it's only.
O fato é que as véia-caqueca do rock são foda. E tudo vale a pena quando a praia não é pequena.
Valem a pena as quase doze horas de viagem noturna, com direito a túneis repetidos de um RodoAnel onde a gente errou feio a saída.
Vale a pena a caminhada de Botafogo até Copacabana, com direito à travessia claustrofóbica e escaldante do Túnel Novo (é esse o nome?).
Vale (e muito) a pena chegar na praia às 14 horas, já achando que o melhor lugar que encontraríamos seria um mocó qualquer a uns duzentos quilômetros do palco, e se posicionar no primeiro grupo de gentes.
Vale a pena enfrentar o sol na venta, o cansaço nas pernas, o sono nos olhos, a areia no corpo, a chatice do AfroReggae e todo o resto.
E foi mesmo assim: uma longa viagem de carro, ultrapassando ônibus e mais ônibus de excursão pelo caminho, em meio a muito papo, risadas, cds pulando, cochilos ocasionais e paradas estratégicas para xixi, água, refri, café e misto morno. Ao entrar na cidade, mais ônibus e ônibus de excursão, a polícia-mais-bem-preparada do Brasil (uma das muitas piadas particulares que não cabem explicar aqui e agora porque demóóóóra) em cada esquina, e uma fila de ônibus que atravessava o Rio de Janeiro inteiro - ou assim me pareceu. Fudeu, pensei. Vamos ficar mais longe do quê o mais longe que eu já pensava que ficaríamos, repensei. Então o jeito era relaxar, tomar um banho, sair do banho já suando de novo, vestir a camiseta exclusiva, a mochila com o kitão de sobrevivência e camelar. Ao chegarmos em Copa, marcamos um ponto de encontro bem longe da muvuca pro caso de nos perdermos - o que aconteceu - e vislumbramos a praia. E o palco. Tinha gente pra tudo que é lado, mas nenhum aglomerado. A galera circulava, comia, bebia e se escondia do sol nas sombras das parcas árvores. Vamos em frente, falei. E fomos. E chegamos lá no começo, quase diante de uma grade de proteção. Foi quando percebemos que, se seguíssemos pelo lado, poderíamos contornar esta tal grade. Compramos uns sandubas numa barraquinha com os simpáticos dizeres "Vem Sem Medo" e passamos para a segunda "galeria". E não é que havia ainda mais uma galeria à frente, logo antes de área VIP? O Jorge foi lá fuçar e acabamos descobrindo que era possível entrar lá também. E foi assim que nos acomodamos do ladinho do palco pequeno. Na seqüência rolou besuntação geral com Sundown 30 e cerveja a dois pilas - o mesmo preço das praias paranaenses (!). Ainda conseguimos emprestar um pouco de sombra de um guarda-sol mineiro. Muito Gatorede, Nutry, água de coco e cerveja depois, o DJ não-sei-quem conseguiu levantar um pouco a galera com uma seleção coerente de musiquetas. Depois veio o AfroMalaReggae, que não conseguiu fazer a gente levantar-se da areia. De lá pude ouvir os caras assassinando "Mosca Na Sopa", "Que País É Este" e "Imagine". Em seguida vieram os Titãs, com um show surpreendentemente vigoroso, compacto e animado (surpreendente porque ultimamente os caras viraram uns chatonildos burocráticos). Mas a performance nada sonífera dos representantes do velho brock conseguiu levantar legal a galera e abrir terreno para os britânicos incendiarem o milhãozinho de pessoas. E não demorou muito.
Após uma viagenzinha semi-lisérgica em um vídeo no telão, os acordes de "Jumpin" Jack Flash" fizeram a galera explodir. A festa de aniversário do Jorge estava começando. Eu e meu irmão o abraçamos e pulamos ao som daqueles velhacos. E digam o que quiserem dos Stones: que já passaram do tempo, que seus shows são caça-níqueis, que não inovam mais em nada. Tudo cai por terra, ou por areia, quando eles entram estraçalhando no palco. Mick parece ligado no 220. Todos os gestos podem e devem ser calculados, mas funcionam bem demais. Não consigo imaginar outro frontman como ele, vivo e esgoelante . Keith é uma múmia viva, conservada em álcool, drogas e rock'n'roll. E toca pra carái. Sem falar que mantém uma baita sinergia com a guitarra do outro maracujá-de-gaveta, Ron Wood. Lá do fundo, Charlie conserva a tal fleuma britânica de tocar (muito bem) bateria (se é que existe fleuma pra tal instrumento). O som estava límpido, puro, cristalino. A voz de Jagger nunca pareceu tão boa. Coisa doida. Ao contrário das outras duas passagens pelo Brasil, desta vez a grande pirotecnia visual foi deixada de lado, o que aguçou a qualidade musical e as músicas em si. O set incluiu três boas músicas do disco novo, uma do Voodoo Lounge, além de um esperto bloco bluseiro, com uma "Midnight Rambler" pesadona e vermelha e uma maravilhosa versão de "The Night Time Is The Right Time", que eu conhecia com os The Animals e não sabia que era do Ray Charles. Tivemos ainda a linda, maravilhosa, irretocável "Wild Horses" e até mesmo a divertida "Get Out Off Of My Cloud". E mais quase todos os clássicos, quatro deles incluídos no bis poderoso.
Dispensável dizer que passei um pouco mal no meio do show e tive que me afastar para respirar direito. Dispensável dizer que esperei pelos meus companheiros de show por mais de uma hora no ponto de encontro. Dispensável dizer que a volta foi cansativa e que nos arrastávamos pelas ruas. Dispensável dizer que no dia seguinte nos assumimos turistas e conhecemos o Cristo Redentor, além de Ipanema, Leblon e Arpoador. E que ainda vimos um jogo no Maracanã, onde o atual campeão da Taça Guanabara bem que poderia ter levado uma goleada do Nova Iguaçu, mas segurou um empate. Dispensável dizer que a viagem de volta foi longa e sonolenta. Tudo que tinha pra ser dito foi cantado em coro durante duas horas. E pronto.
Adendo 1: muitos fatos, situações e frases não são de minha autoria, mas dos meus companheiros de show.
Adendo 2: conheça também outras opiniões de antes e depois e depois do show.
Adendo 3: se você tiver saco e visão-de-falcão-além-do-alcance, pode tentar me achar aqui.
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