sábado, setembro 02, 2006

Álbum de Família









Já era tarde quando ela chegou.
Mesmo assim ele pediu alguns minutinhos antes de sair, era jogo rápido, precisava pegar uma coisinha no quarto.
Apesar de ocupadíssima, ela aceitou, vai lá, eu também cheguei atrasada e não posso dizer nada.
Ele passou correndo pela família inteira que estava conversando na sala, subiu as escadas como um raio e foi direto na terceira gaveta do armário. Papéis, papéis...Ah! A caixa de sapatos. Abriu. Elásticos grossos seguravam blocos de fotos antigas. Essa não, essa não. Nossa! Como minha mãe era bonita quando eu nasci. Se eu fosse meu pai eu pegava mesmo, aquele filho da puta. Mas não é essa. Não. Não. Também não. Porra! Como eu ficava engraçado com esse uniforme do colégio. Não, não e não. Carlinha... hum...Cadê, porra, cadê? Marcinha!? Não lembrava dessa! Cadê? Hahahahahaha. Que cabelo ridículo! O que eu tinha na cabeça? Onde foi que eu coloquei? Onde você foi parar? Não. Não. Não. Não. Não. Oh! Bia!...Linda! (beijo)... mas não é você, meu amor. Nem vocês, meus filhos mais lindos do mundo (beijo, beijo). Turma do futebol, não. Turma do pôker, não. Turma da faculdade muito menos. Arrrrrá! Aqui está!
Dobrou a foto, colocou no bolso e saiu nas pontas dos pés para não acordar quem dormia no quarto. A morte o esperava no portão.

E foi assim que Procópio partiu para a eternidade, levando consigo tudo o que realmente importava: uma foto dele abraçadinho com o Pluto, lá na Disney.

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